sábado, 12 de dezembro de 2009

O retorno - Mare

Poxa, faz tanto tempo que não posto aqui...
Mas hoje não vou tirar o atraso dos meus posts, quero mesmo é deixar um texto que me apaixonei. É uma carta do livro "Olhai os lírios do campo" de Érico Veríssimo. Espero que todos gostem.


" Meu querido: o Dr. Teixeira Torres acha que a intervenção deve ser feita imediatamente e daqui a pouquinho tenho que ir para o hospital. Não sei por que me veio a idéia de que posso morrer na mesa de operações e aqui estou te escrevendo porque não me perdoaria a mim mesma se fosse embora desta vida sem te dizer umas quantas coisas que não te diria se estivesse viva. Há pouco sentia dores horríveis, mas agora estou sob ação da morfina e é por isto que encontro alguma tranqüilidade para conversar contigo. Mas estarei mesmo tranqüila? Acho que sim. Decerto é a esperança de que tudo corra bem e que daqui a quinze dias eu esteja de novo no meu quarto, com a nossa filha, e meio rindo e meio chorando venha reler e rasgar esta carta, que então me parecerá muito tola e ao mesmo tempo muito estranha. Quero falar de ti. Lembra-te daquela tarde em que nos encontramos nas escadas da faculdade? Mal no conhecíamos, tu me cumprimentaste com timidez, eu te sorri um pouco desajeitada e cada qual continuou o seu caminho. Tu naturalmente me esqueceste no instante seguinte, mas eu continuei pensando em ti e não sei por que fiquei com a certeza de que ainda haverias de ter uma grande, uma imensa importância na minha vida. São pressentimentos misteriosos que ninguém sabe explicar. Hoje tens tudo quanto sonhava: posição social, dinheiro, conforto, mas no fundo te sentes ainda bem como aquele Eugênio indeciso e infeliz, meio desarvorado e amargo que subia as escadas do edifício da faculdade, envergonhado de sua roupa surrada. Continuou em ti a sensação de inferioridade (perdoa que te fale assim), o vazio interior, a falta de objetivos maiores. Começas agora a pensar no passado com uma pontinha de saudade, com um pouquinho de remorso. Tens tido crises de consciência, não é mesmo? Pois ainda passarás horas mais amargas e eu chego até a amar o teu sofrimento, porque dele, estou certa, há de nascer o novo Eugênio.
Uma noite me disseste que Deus não existia porque em mais de vinte anos de vida não O pudeste encontrar. Pois até nisso se manifesta a magia de Deus. Um ser que existe mas é invisível para uns, mal e mal perceptível para outros e duma nitidez maravilhosa para os que nasceram simples ou adquiriram simplicidade por meio do sofrimento ou duma funda compreensão da vida. Dia virá em que em alguma volta de teu caminho há de encontrar Deus. Um amigo meu, que se dizia ateu, nas noites de tormenta desafiava Deus, gritava para as nuvens, provocando o raio. Deus é tão poderoso que está presente até nos pensamentos dos que dizem não acreditar na sua existência. Nunca encontrei um ateu sereno. Eles se preocupam tanto com Deus como o melhor dos deístas. O argumento mais fraco que tenho contra o ateísmo é que ele é absolutamente inútil e estéril; não constrói nada, não explica nada, não leva a coisa nenhuma. Se soubesses como tenho confiança em ti, como tenho certeza na tua vitória final...
Deixo-te Anamaria e fico tranqüila. Já estou vendo vocês dois juntos e muito amigos na nova vida, caminhando de mãos dadas. Pensa apenas nisto: há nela muito de mim e principalmente muito de ti. Anamaria parece trazer escrito no rosto o nome do pai. É uma marca de Deus, Genoca, compreende bem isto. Vais contunuar nela: é como se te fosse dado modelar, com o barro de que foste feito, um novo Eugênio.
Quando eu estava ainda em Nova Itália. Li muitas vezes o teu nome ligado ao do teu sogro em grandes negócios, sindicatos, monopólios e não sei mais quê. Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles? Quero que abra os olhos, Eugênio, que acorde enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda sua glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo devia viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.
Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação. E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas de boa vontade. E de homens fortes como esse teu amigo Filipe Lobo, que seria um campeão de nossa causa se orientasse a sua ambição, o seu ímpeto construtor e a sua coragem num sentido social e não apenas egoisticamente pessoal. Não sei, querido, mas acho que estou febril. Este entusiasmo, portanto, vai por conta da febre. Ouço agora um ruído. Deve ser a ambulância que vem me buscar. Senti um calafrio e parece que minha coragem teve um pequeno desfalecimento. Estás vendo o tremor de minha letra? É que sou humana, Genoca, profundamente humana, tão humana que te confesso corando um pouco (apesar dos trinta anos e da profissão) que antes de ir para o hospital eu quisera beijar-te muito e muito.
Anamaria fica com D. Frida. Sei que depois, se eu morrer, virás buscá-la para a nova vida.
Reli o que acabo de escrever. Estou fazendo um esforço danado para não chorar. Tolice! Espero que tudo corra bem e que dentro de duas semanas eu esteja queimando esta carta que já agora me parece um pouco melodramática. Antes que me esqueça: na gaveta da cômoda há um maço de cartas que te escrevi de Nova Itália expressamente para “não te mandar”. Agora pode lê-las todas. Não encontrarás nada do meu passado, do qual nunca te falei e sobre o qual tiveste a delicadeza de não fazer perguntas. É pena. Gostaria que soubesses tudo, que visses como minha vida já foi feia e escura e como lutei e sofri para encontrar a tranqüilidade, a paz de Deus.
Adeus. Sempre aborreci as cartas de romance que terminam de modo patético. Mas permite que eu escreva.

Tua para a eternidade. Olívia"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Rafa postou algo sobre procrastinar e não escreveu mais nada, que dizer continuou procrastinando (leiam o post anterior). Não vou falar de você amiga.
Alguns meses atrás eu estava assistindo ao VMB e percebi que a Internet esta invadindo a TV de uma forma muito rápida, esse ano na premiação, teve a escolha do melhor twitter, como assim? Como escolher a melhor pág nesse site de relacionamento? Não sei os critérios usados, mas achei um absurdo, teve a escolha do melhor blog, uma das apresentadoras da MTV era uma das mais acessadas na Internet e ganhou um emprego de VJ, o programa ‘Mais Você’ e vários outros programas da TV tem uma pág no twitter. Em meio a isso tudo existe o telespectador, que acaba usando desses meios também para estar mais próximo da realidade virtual e se adaptar ao meio em que ele vive. E por conta disso muitas dessas pessoas acabam procrastinando em frente ao computador, só vendo coisas inúteis, sendo manipuladas pelos meios de comunicação, formando a opinião dos indivíduos.
As pessoas aceitam isso por não terem boa educação, por não ser de interesse de ninguém, é bem mais fácil controlar uma sociedade alienada do que uma educada. Por conta disso as pessoas perdem boas oportunidades de fazerem uma faculdade a distancia, que é uma idéia ótima, porem, as pessoas não estão prontas pra ensinarem a distancia e nem aprenderem a distancia, e não falo isso sem conhecimento, falo isso por conhecer alguém que esta passando por isso, é uma pessoa inteligente, porém o esforço pra estudar, sem uma cobrança de uma presença autoritária que existe em sala de aula, acaba que se volta para outras coisas mais “interessantes” que não faça tanto esforço para a mente.
Como diria Lulu Santos “e assim caminha a humanidade com passos de formiga e sem vontade” e com a Internet ninguém caminha mais, navega nesse mundo de sonhos que a Internet proporciona.
Para de ler essa baboseira e vai ler um livro!
Por Ana Vitoria Gaspar