domingo, 24 de janeiro de 2010

Enfim habilitada


É depois de duas tentativas frustradas em meio a uma semi-savana na ilha do governador, debaixo de um mormaço daqueles, em um local descampado sem nenhuma proteção contra sol ou chuva, com mato bem alto, juntamente com alguns animais disfarçados de examinadores, era onde eu me encontrava na manhã de sexta-feira do dia 15 de janeiro de 2010. Depois de esperar algumas horas chegou minha vez para fazer a prova prática, para conseguir a minha habilitação e desta vez eu estava mais confiante e também mais nervosa do que nunca, pois esta seria minha última chance, foi então que ao ser chamada para dar inicio a prova começou o nervosismo que mal conseguia conter. Entrei no carro ajeitei tudo, e a partir disso os quatros minutos para colocar e tirar o carro da vaga foi devidamente cronometrado e minha perna começou a tremer, fazia tanto barulho como uma bateria de escola de samba, mesmo com o calcanhar apoiado no chão. Mas graças a Deus fiz não só baliza, mas como todo percurso, seguindo todas as instruções que meu instrutor havia me dado, e sem perder nenhum ponto. E depois disso foi só correr para o abraço, pois já tinha conseguido obter minha habilitação. Já sei que muitos irão debochar dizendo que vão colocar postes de borrachas, que não vão sair quando eu estiver no volante, que sair comigo nem pensar, pois tem amor a vida, dentre outras coisas... Mais os mesmos que hoje falam isso, não sabem o dia de amanhã, o qual pode vir a precisar da mais nova motorista aqui... E se algum dia precisarem pode deixar, que farei questão de dar carona a vocês.

Por Rafaelle Monteiro

sábado, 12 de dezembro de 2009

O retorno - Mare

Poxa, faz tanto tempo que não posto aqui...
Mas hoje não vou tirar o atraso dos meus posts, quero mesmo é deixar um texto que me apaixonei. É uma carta do livro "Olhai os lírios do campo" de Érico Veríssimo. Espero que todos gostem.


" Meu querido: o Dr. Teixeira Torres acha que a intervenção deve ser feita imediatamente e daqui a pouquinho tenho que ir para o hospital. Não sei por que me veio a idéia de que posso morrer na mesa de operações e aqui estou te escrevendo porque não me perdoaria a mim mesma se fosse embora desta vida sem te dizer umas quantas coisas que não te diria se estivesse viva. Há pouco sentia dores horríveis, mas agora estou sob ação da morfina e é por isto que encontro alguma tranqüilidade para conversar contigo. Mas estarei mesmo tranqüila? Acho que sim. Decerto é a esperança de que tudo corra bem e que daqui a quinze dias eu esteja de novo no meu quarto, com a nossa filha, e meio rindo e meio chorando venha reler e rasgar esta carta, que então me parecerá muito tola e ao mesmo tempo muito estranha. Quero falar de ti. Lembra-te daquela tarde em que nos encontramos nas escadas da faculdade? Mal no conhecíamos, tu me cumprimentaste com timidez, eu te sorri um pouco desajeitada e cada qual continuou o seu caminho. Tu naturalmente me esqueceste no instante seguinte, mas eu continuei pensando em ti e não sei por que fiquei com a certeza de que ainda haverias de ter uma grande, uma imensa importância na minha vida. São pressentimentos misteriosos que ninguém sabe explicar. Hoje tens tudo quanto sonhava: posição social, dinheiro, conforto, mas no fundo te sentes ainda bem como aquele Eugênio indeciso e infeliz, meio desarvorado e amargo que subia as escadas do edifício da faculdade, envergonhado de sua roupa surrada. Continuou em ti a sensação de inferioridade (perdoa que te fale assim), o vazio interior, a falta de objetivos maiores. Começas agora a pensar no passado com uma pontinha de saudade, com um pouquinho de remorso. Tens tido crises de consciência, não é mesmo? Pois ainda passarás horas mais amargas e eu chego até a amar o teu sofrimento, porque dele, estou certa, há de nascer o novo Eugênio.
Uma noite me disseste que Deus não existia porque em mais de vinte anos de vida não O pudeste encontrar. Pois até nisso se manifesta a magia de Deus. Um ser que existe mas é invisível para uns, mal e mal perceptível para outros e duma nitidez maravilhosa para os que nasceram simples ou adquiriram simplicidade por meio do sofrimento ou duma funda compreensão da vida. Dia virá em que em alguma volta de teu caminho há de encontrar Deus. Um amigo meu, que se dizia ateu, nas noites de tormenta desafiava Deus, gritava para as nuvens, provocando o raio. Deus é tão poderoso que está presente até nos pensamentos dos que dizem não acreditar na sua existência. Nunca encontrei um ateu sereno. Eles se preocupam tanto com Deus como o melhor dos deístas. O argumento mais fraco que tenho contra o ateísmo é que ele é absolutamente inútil e estéril; não constrói nada, não explica nada, não leva a coisa nenhuma. Se soubesses como tenho confiança em ti, como tenho certeza na tua vitória final...
Deixo-te Anamaria e fico tranqüila. Já estou vendo vocês dois juntos e muito amigos na nova vida, caminhando de mãos dadas. Pensa apenas nisto: há nela muito de mim e principalmente muito de ti. Anamaria parece trazer escrito no rosto o nome do pai. É uma marca de Deus, Genoca, compreende bem isto. Vais contunuar nela: é como se te fosse dado modelar, com o barro de que foste feito, um novo Eugênio.
Quando eu estava ainda em Nova Itália. Li muitas vezes o teu nome ligado ao do teu sogro em grandes negócios, sindicatos, monopólios e não sei mais quê. Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles? Quero que abra os olhos, Eugênio, que acorde enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e no entanto nem Salomão em toda sua glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu. Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o povo devia viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um puro contemplativo.
Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação. E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades, malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas de boa vontade. E de homens fortes como esse teu amigo Filipe Lobo, que seria um campeão de nossa causa se orientasse a sua ambição, o seu ímpeto construtor e a sua coragem num sentido social e não apenas egoisticamente pessoal. Não sei, querido, mas acho que estou febril. Este entusiasmo, portanto, vai por conta da febre. Ouço agora um ruído. Deve ser a ambulância que vem me buscar. Senti um calafrio e parece que minha coragem teve um pequeno desfalecimento. Estás vendo o tremor de minha letra? É que sou humana, Genoca, profundamente humana, tão humana que te confesso corando um pouco (apesar dos trinta anos e da profissão) que antes de ir para o hospital eu quisera beijar-te muito e muito.
Anamaria fica com D. Frida. Sei que depois, se eu morrer, virás buscá-la para a nova vida.
Reli o que acabo de escrever. Estou fazendo um esforço danado para não chorar. Tolice! Espero que tudo corra bem e que dentro de duas semanas eu esteja queimando esta carta que já agora me parece um pouco melodramática. Antes que me esqueça: na gaveta da cômoda há um maço de cartas que te escrevi de Nova Itália expressamente para “não te mandar”. Agora pode lê-las todas. Não encontrarás nada do meu passado, do qual nunca te falei e sobre o qual tiveste a delicadeza de não fazer perguntas. É pena. Gostaria que soubesses tudo, que visses como minha vida já foi feia e escura e como lutei e sofri para encontrar a tranqüilidade, a paz de Deus.
Adeus. Sempre aborreci as cartas de romance que terminam de modo patético. Mas permite que eu escreva.

Tua para a eternidade. Olívia"

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Rafa postou algo sobre procrastinar e não escreveu mais nada, que dizer continuou procrastinando (leiam o post anterior). Não vou falar de você amiga.
Alguns meses atrás eu estava assistindo ao VMB e percebi que a Internet esta invadindo a TV de uma forma muito rápida, esse ano na premiação, teve a escolha do melhor twitter, como assim? Como escolher a melhor pág nesse site de relacionamento? Não sei os critérios usados, mas achei um absurdo, teve a escolha do melhor blog, uma das apresentadoras da MTV era uma das mais acessadas na Internet e ganhou um emprego de VJ, o programa ‘Mais Você’ e vários outros programas da TV tem uma pág no twitter. Em meio a isso tudo existe o telespectador, que acaba usando desses meios também para estar mais próximo da realidade virtual e se adaptar ao meio em que ele vive. E por conta disso muitas dessas pessoas acabam procrastinando em frente ao computador, só vendo coisas inúteis, sendo manipuladas pelos meios de comunicação, formando a opinião dos indivíduos.
As pessoas aceitam isso por não terem boa educação, por não ser de interesse de ninguém, é bem mais fácil controlar uma sociedade alienada do que uma educada. Por conta disso as pessoas perdem boas oportunidades de fazerem uma faculdade a distancia, que é uma idéia ótima, porem, as pessoas não estão prontas pra ensinarem a distancia e nem aprenderem a distancia, e não falo isso sem conhecimento, falo isso por conhecer alguém que esta passando por isso, é uma pessoa inteligente, porém o esforço pra estudar, sem uma cobrança de uma presença autoritária que existe em sala de aula, acaba que se volta para outras coisas mais “interessantes” que não faça tanto esforço para a mente.
Como diria Lulu Santos “e assim caminha a humanidade com passos de formiga e sem vontade” e com a Internet ninguém caminha mais, navega nesse mundo de sonhos que a Internet proporciona.
Para de ler essa baboseira e vai ler um livro!
Por Ana Vitoria Gaspar

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Não perca tempo


Pare de procrastinar! Você deve estar se perguntando que palavra é essa, não é mesmo? Apesar de soar estranho aos seus ouvidos, tenho certeza que você vive colocando esse verbo em ação. Pois bem, esse termo vem do latim: pro(adiante) crastinus(amanhã), ou seja, adiar, demorar, deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Mas porque fazemos isso com tanta frequência?

Por exemplo, a calmaria deste blog, seria devido, realmente a correria do dia a dia, a falta de tempo ou a procrastinação? Bem no meu caso é devido à procrastinação, pois tenho vários textos ainda por fazer, várias idéias na cabeça, as quais sempre prefiro deixar para amanhã para serem expostas aqui, com a pretensão de surgirem novas idéias. Isso é só uma desculpa para mim mesma. Pois há tempos que não posto nada. Porém, esse amanhã demorou mas chegou e estou aqui...

O ato de protelar não é uma boa escolha. Pois a vida é feita de prazos, a todo o momento somos cobrados a fazer as coisas, cumprir horários e não há tempo para procrastinar. Ainda mais na minha futura profissão, onde terei que trabalhar com os famosos "deadlines", traduzidos ao pé da letra, linha da morte. E neste caso, procrastinar é quase que impossível.

Enfim, não basta só ficar na teoria temos que por em prática e parar de procrastinar. Pois como já dizia Cazuza “o tempo não para”, logo a vida também não. Por isso não deixe para amanhã o que você poderia fazer hoje. Mova-se, mexa-se, seja mais produtivo e vá fazer aquilo que você deixou pra depois, quando veio ler este post.

Por Rafaelle Monteiro

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

É esse tal de sentimento mesquinho

Esse final de semana aprendi duas coisas importantes, que a vida é feita de pequenos momentos, não importando a grandeza ou se é bom. Outra foi sobre a inveja e é sobre ela que eu vou falar hoje, tudo que vai volta, e a inveja tem uma proporção sem tamanho que quando ela chega a você tem uma força, quando volta pra pessoa é em dobro.
Hoje à tarde eu vi essa dor em uma pessoa que diz ser amiga, mas é falsa como uma nota de R$3,00, essa pessoa jogou tanta coisa ruim, quis imitar, quis fazer alvoroço com algo que não era dela, que hoje veio em dobro [estou sendo modesta].
Mas porque perder meu tempo falando sobre essa pessoa ruim pra mim? Porque eu não estou com pena dela, porque ela não foi nem será a primeira, porque a revolta que eu sinto hoje passou. Perguntaram se eu sinto pena dessa pessoa? Respondi que não, e você vai se perguntar se eu sou ruim, não eu não sou ruim, apenas aprendi que pena a gente tem que ter, que plantou o bem e por alguma razão não deu nada certo.
O que de fato realmente importa nessa vida, são as coisas que plantamos e cultivamos, e como já dizia uma música ‘então não me conte os seus problemas, hoje eu quero paz e quero amor’ então cada um que tome conta daquilo que anda fazendo, e não entregue os seus problemas as outras pessoas, não faça de ninguém o muro das lamentações e nem seja o de ninguém, porque geralmente aquele que te faz de ‘murinho’ amanha irá falar de você e acredite não serão coisas boas.
Esse foi só o meu desabafo, não quero mais escrever sobre esse assunto, estou de alma lavada.
Por Ana Vitoria Gaspar

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Há tempos que não escrevo no blog, há tempos que as meninas também não postam. Falta de criatividade? Sei lá, talvez muitas tarefas.
Mas hoje vou escrever sobre algo que todos torceram e aconteceu, o Rio vai sediar os jogos olimpicos de 2016, honestamente isso só vai interferir na vida de quem for participar dos jogos, nesse momento esta acontecendo uma festa em Copacabana em comemoração, mas e daí? A cidade vai ficar cheia de gringos, o policiamento na epoca dos jogos vai ser de 100% no local das competições e nas vilas olimpicas, aqui perto de casa tenho certeza que não vou ver metade desses jogos, só pela televisão mesmo se eu tiver tempo para assistir, espero eu em 2016 ser uma pessoa bastante ocupada, escrevendo minhas besteiras para jornais famosos (kkkkkkkkkkkkkk).
A mesma história do pan, vai se repetir nas olimpiadas, as melhorias só na epoca dos jogos, e depois? Assalto um atras do outro, cracolandia se formando uma em cada canto do Rio. Alguém sendo preso por isso? Não. Punição para essas coisas? Não. Antes de viver de aparencia para o mundo lá fora, deveria olhar aqui para dentro e ver o que de fato acontece na cidade maravilhosa, de cima ta tudo muito lindo, mas olha de perto ta tudo muito feio.
Não pense vocês que eu não gosto dessa cidade, pelo contrario, já morei 4 anos em outro Estado e sei como é dificil viver longe daqui, sei como da saudade, mas também já fui assaltada 2 vezes, fiquei perto de um tiroteio, entre outras coisas e hoje ando na minha terra com medo e assustada sem saber o que pode acontecer comigo na rua.

Por Ana Vitoria Gaspar

domingo, 23 de agosto de 2009

Entrando no clima de volta as aulas...


Jornalismo: a melhor profissão do mundo.

"Há uns cinqüenta anos não estavam na moda escolas de jornalismo. Aprendia-se nas redações, nas oficinas, no botequim do outro lado da rua, nas noitadas de sexta-feira. O jornal todo era uma fábrica que formava e informava sem equívocos e gerava opinião num ambiente de participação no qual a moral era conservada em seu lugar.
Não haviam sido instituídas as reuniões de pauta, mas às cinco da tarde, sem convocação oficial, todo mundo fazia uma pausa para descansar das tensões do dia e confluía num lugar qualquer da redação para tomar café. Era uma tertúlia aberta em que se discutiam a quente os temas de cada seção e se davam os toques finais na edição do dia seguinte. Os que não aprendiam naquelas cátedras ambulantes e apaixonadas de vinte e quatro horas diárias, ou os que se aborreciam de tanto falar da mesma coisa, era porque queriam ou acreditavam ser jornalistas, mas na realidade não o eram.
O jornal cabia então em três grandes seções: notícias, crônicas e reportagens, e notas editoriais. A seção mais delicada e de grande prestígio era a editorial. O cargo mais desvalido era o de repórter, que tinha ao mesmo tempo a conotação de aprendiz e de ajudante de pedreiro. O tempo e a profissão mesma demonstraram que o sistema nervoso do jornalismo circula na realidade em sentido contrário. Dou fé: aos 19 anos, sendo o pior dos estudantes de direito, comecei minha carreira como redator de notas editoriais e fui subindo pouco a pouco e com muito trabalho pelos degraus das diferentes seções, até o nível máximo de repórter raso.
A prática da profissão, ela própria, impunha a necessidade de se formar uma base cultural, e o ambiente de trabalho se encarregava de incentivar essa formação. A leitura era um vício profissional. Os autodidatas costumam ser ávidos e rápidos, e os daquele tempo o fomos de sobra para seguir abrindo caminho na vida para a melhor profissão do mundo - como nós a chamávamos. Alberto Lleras Camargo, que foi sempre jornalista e duas vezes presidente da Colômbia, não tinha sequer o curso secundário.
A criação posterior de escolas de jornalismo foi uma reação escolástica contra o fato consumado de que o ofício carecia de respaldo acadêmico. Agora as escolas existem não apenas para a imprensa escrita como para todos os meios inventados e por inventar. Mas em sua expansão varreram até o nome humilde que o ofício teve desde suas origens no século XV, e que agora não é mais jornalismo, mas Ciências da Comunicação ou Comunicação Social.
O resultado não é, em geral, alentador. Os jovens que saem desiludidos das escolas, com a vida pela frente, parecem desvinculados da realidade e de seus problemas vitais, e um afã de protagonismo prima sobre a vocação e as aptidões naturais. E em especial sobre as duas condições mais importantes: a criatividade e a prática.
Em sua maioria, os formados chegam com deficiências flagrantes, têm graves problemas de gramática e ortografia, e dificuldades para uma compreensão reflexiva dos textos. Alguns se gabam de poder ler de trás para frente um documento secreto no gabinete de um ministro, de gravar diálogos fortuitos sem prevenir o interlocutor, ou de usar como notícia uma conversa que de antemão se combinara confidencial.
O mais grave é que tais atentados contra a ética obedecem a uma noção intrépida da profissão, assumida conscientemente e orgulhosamente fundada na sacralização do furo a qualquer preço e acima de tudo. Seus autores não se comovem com a premissa de que a melhor notícia nem sempre é a que se dá primeiro, mas muitas vezes a que se dá melhor. Alguns, conscientes de suas deficiências, sentem-se fraudados pela faculdade onde estudaram e não lhes treme a voz quando culpam seus professores por não lhes terem inculcado as virtudes que agora lhes são requeridas, especialmente a curiosidade pela vida.
É certo que tais críticas valem para a educação geral, pervertida pela massificação de escolas que seguem a linha viciada do informativo ao invés do formativo. Mas no caso específico do jornalismo parece que, além disso, a profissão não conseguiu evoluir com a mesma velocidade que seus instrumentos e os jornalistas se extraviaram no labirinto de uma tecnologia disparada sem controle em direção ao futuro.
Quer dizer: as empresas empenharam-se a fundo na concorrência feroz da modernização material e deixaram para depois a formação de sua infantaria e os mecanismos de participação que no passado fortaleciam o espírito profissional. As redações são laboratórios assépticos para navegantes solitários, onde parece mais fácil comunicar-se com os fenômenos siderais do que com o coração dos leitores. A desumanização é galopante.
Não é fácil aceitar que o esplendor tecnológico e a vertigem das comunicações, que tanto desejávamos em nossos tempos, tenham servido para antecipar e agravar a agonia cotidiana do horário de fechamento.
Os principiantes queixam-se de que os editores lhes concedem três horas para uma tarefa que na hora da verdade é impossível em menos de seis, que lhes encomendam material para duas colunas e na hora da verdade lhes concedem apenas meia coluna, e no pânico do fechamento ninguém tem tempo nem ânimo para lhes explicar por que, e menos ainda para lhes dizer uma palavra de consolo.
"Nem sequer nos repreendem", diz um repórter novato ansioso por ter comunicação direta com seus chefes. Nada: o editor, que antes era um paizão sábio e compassivo, mal tem forças e tempo para sobreviver ele mesmo ao cativeiro da tecnologia.
A pressa e a restrição de espaço, creio, minimizaram a reportagem, que sempre tivemos na conta de gênero mais brilhante, mas que é também o que requer mais tempo, mais investigação, mais reflexão e um domínio certeiro da arte de escrever. É, na realidade, a reconstituição minuciosa e verídica do fato. Quer dizer: a notícia completa, tal como sucedeu na realidade, para que o leitor a conheça como se tivesse estado no local dos acontecimentos.
O gravador é culpado pela glorificação viciosa da entrevista. O rádio e a televisão, por sua própria natureza, converteram-na em gênero supremo, mas também a imprensa escrita parece compartilhar a idéia equivocada de que a voz da verdade não é tanto a do jornalista que viu como a do entrevistado que declarou. Para muitos redatores de jornais, a transcrição é a prova de fogo: confundem o som das palavras, tropeçam na semântica, naufragam na ortografia e morrem de enfarte com a sintaxe.
Talvez a solução seja voltar ao velho bloco de anotações, para que o jornalista vá editando com sua inteligência à medida que escuta, e restitua o gravador a sua categoria verdadeira, que é a de testemunho inquestionável. De todo modo, é um consolo supor que muitas das transgressões da ética, e outras tantas que aviltam e envergonham o jornalismo de hoje, nem sempre se devem à imoralidade, mas igualmente à falta de domínio do ofício.
Talvez a desgraça das faculdades de Comunicação Social seja ensinar muitas coisas úteis para a profissão, porém muito pouco da profissão propriamente dita. Claro que devem persistir em seus programas humanísticos, embora menos ambiciosos e peremptórios, para ajudar a constituir a base cultural que os alunos não trazem do curso secundário.
Entretanto, toda a formação deve se sustentar em três vigas mestras: a prioridade das aptidões e das vocações, a certeza de que a investigação não é uma especialidade dentro da profissão, mas que todo jornalismo deve ser investigativo por definição, e a consciência de que a ética não é uma condição ocasional, e sim que deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro.
O objetivo final deveria ser o retorno ao sistema primário de ensino em oficinas práticas formadas por pequenos grupos, com um aproveitamento crítico das experiências históricas, e em seu marco original de serviço público. Quer dizer: resgatar para a aprendizagem o espírito de tertúlia das cinco da tarde.
Um grupo de jornalistas independentes estamos tratando de fazê-lo, em Cartagena de Indias, para toda a América Latina, com um sistema de oficinas experimentais e itinerantes que leva o nome nada modesto de Fundação do Novo Jornalismo Ibero-Americano. É uma experiência piloto com jornalistas novos para trabalhar em alguma especialidade - reportagem, edição, entrevistas de rádio e televisão e tantas outras - sob a direção de um veterano da profissão."
A mídia faria bem em apoiar essa operação de resgate. Seja em suas redações, seja com cenários construídos intencionalmente, como os simuladores aéreos que reproduzem todos os incidentes de vôo, para que os estudantes aprendam a lidar com desastres antes que os encontrem de verdade atravessados em seu caminho. Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade.
Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."

Gabriel García Márquez.